O futebol é considerado o desporto mais praticado no mundo e extremamente popular em Portugal. Apesar das lesões dos membros inferiores serem definitivamente as mais comuns neste desporto, as lesões do ombro são as mais frequentes do membro superior e correspondem a cerca de 20-30% de todas as lesões no futebol, com uma incidência crescente.
O futebol pode ser considerado um desporto de contacto, com disputas de bola corpo a corpo, entradas de carrinho e quedas frequentes, o que aumenta o risco de lesões traumáticas que podem ser graves e incapacitantes.
De acordo com os estudos, as três lesões mais frequentes são as fraturas da clavícula, luxações acromioclaviculares e luxações do ombro ou glenoumerais. Lesões de sobrecarga, como tendinites ou roturas da coifa dos rotadores ou do tendão bicípite braquial são menos comuns e estão associadas a determinados gestos específicos, como o lançamento da bola com as mãos.
As fraturas da clavícula ocorrem por traumatismos diretos sobre o ombro ou numa queda com apoio do membro superior. A deformidade é evidente nos adultos, mas pode ser discreta em crianças ou fraturas do terço lateral sem desvio. Existem três grupos de fraturas da clavícula, de acordo com a sua localização. As mais frequentes são as do terço intermédio, seguindo-se as do terço lateral. Estas últimas podem associar-se a lesões dos ligamentos que unem a clavícula à omoplata, comportando-se como luxações acromioclaviculares.
As luxações acromioclaviculares devem-se a quedas sobre o ombro e caracterizam-se pelo estiramento ou rotura dos ligamentos que ligam a clavícula à omoplata (acromioclaviculares e coracoclaviculares – os mais importantes).
Existem vários graus de gravidade, desde pequenas entorses até rotura completa de todos os ligamentos. Nestas situações, uma deformidade lateral, com proeminência da clavícula e queda do ombro é evidente e resulta em dor e limitação funcional.
As luxações do ombro acontecem quando a cabeça do úmero (o osso superior do braço) se desloca da superfície articular da omoplata, mais comumente para a frente (luxação anterior).
Apesar do primeiro episódio ser traumático numa grande parte dos casos, pode haver uma predisposição genética e de elasticidade excessiva dos tecidos que aumenta o risco da sua ocorrência. Após uma primeira luxação, o risco de acontecer mais vezes aumenta exponencialmente, sobretudo em praticantes de desportos de contacto.
A evidência científica atual centra-se sobretudo em futebolistas profissionais, pela maior capacidade de monitorização e colheita de dados. Apesar das lesões traumáticas do ombro serem também as mais frequentes em praticantes recreacionais ou de lazer, a sua prevalência poderá ser menor, não só devido à menor frequência da prática que reduz o tempo de exposição ao risco, mas também pela menor intensidade durante o jogo. No entanto, a menor preparação física em atletas recreacionais pode condicionar o tempo de resposta após traumatismos, o que se traduz em menor capacidade de amortecer quedas.
Por outro lado, os guarda-redes são elementos que requerem a utilização das mãos para defender e repor a bola em jogo. Acredita-se que estes jogadores têm um risco quase cinco vezes superior de lesões nos ombros e o seu tempo de paragem é significativamente superior aos jogadores de campo quando sofrem este tipo de lesões.
O tratamento das lesões do ombro em futebolistas tem em consideração as características de cada lesão específica e do atleta, do seu nível de competição e posição no campo, fase da época ou da restante vida profissional, entre outras.
As fraturas da clavícula podem ser tratadas com uma suspensão braquial que imobiliza o braço durante algumas semanas. No entanto, quando o desvio é excessivo, aumenta o risco de condicionar um ombro doloroso e com pior funcionamento, pelo que a cirurgia para corrigir a deformidade e fixar a fratura pode garantir melhores resultados.
As luxações acromioclaviculares mais ligeiras também podem ser tratadas conservadoramente, com boa recuperação após cicatrização dos ligamentos atingidos. Em casos mais graves, de rotura completa e instabilidade da articulação, existem métodos mini-invasivos de fixação auxiliada por artroscopia que estabilizam a clavícula e permitem um retorno ao nível desportivo prévio.
As luxações do ombro, ou instabilidade glenoumeral, são um tópico controverso e que gera grande discussão sobre o melhor tratamento. De uma forma geral, após um primeiro episódio pode ser tentado um tratamento conservador de imobilização durante algumas semanas, seguida de um período de reabilitação específico. Alguns casos podem beneficiar do tratamento cirúrgico imediato, que pode ser feito por via artroscópica mini-invasiva (videocirurgia).
Quando o problema é recorrente, com múltiplos episódios de luxação ou sensação de ombro instável, a cirurgia permite recuperar a estabilidade do ombro e o regresso à prática desportiva no futuro.